Arad Escreveu:País pequenino de merd@ em que vivemos, é ao ver estas coisas sugeridas por quem devia revoltar-se e agarrar na ambição para lutar por mais, que penso que no dia em que caír no desemprego ainda vou mas é daqui para fora.
Já há muito que não vinha aqui (para participar, vou lendo umas coisas qd o tempo me permite), mas não posso deixar de fazer um pequeno comentário.
Arad, assino por baixo e acrescento: eu tenho a certeza que me vou embora. Digo isto com muita pena porque por um lado sinto que quantas mais pessoas abandonarem o país, principalmente as mais válidas (sim, considero-me bastante válido), pior isto vai ficar, mas por outro lado, tal como estás a dizer, é por ouvir certas coisas que penso que n há muito mais a fazer por este país (n será bem assim, mas confesso que cada vez mais este sentimento cresce em mim).
Aqui há uns tempos vi uma reportagem muito interessante intitulada "o país mais feliz da Europa". Chegou-se à conclusão que era a Noruega. Os repórteres foram lá fazer uma reportagem alargada para tentar perceber porquê.
Deixo só um exemplo:
Primeira entrevistada, uma senhora enfermeira que decidiu por vontade própria deixar de ser enfermeira e tentar abraçar uma nova carreira com crianças de necessidades especiais. O que é que ela faz: despede-se (n foi despedida) e inscreve-se no centro de emprego da sua área. Esta senhora tinha direito a receber durante 4 anos (quatro anos) 80 ou 90 %(um dos dois n me lembro mas é irrelevante para o caso) do seu último salário. Claro que o reporter lhe perguntou porque é que ela n aproveitava. Foi espantoso ver como essa pergunta ofendeu a senhora. Palavras dela: " eu não quero viver à conta do estado, eu teria vergonha de tal coisa...". Claro que esta senhora sabe que passado 1 ou 2 semanas tem um novo emprego naquilo que quer fazer, coisa que n acontece em Portugal mas aí entramos na situação de pescadinha de rabo na boca: será que em Portugal isto n acontece porque n há empregos, ou será que se toda a gente pensasse assim as coisas funcionavam melhor e toda a gente teria empregos?
Enfim, a conclusão que se tira (que eu tiro, pelo menos), e aqui voltamos ao porquê de cada vez mais achar que o país n tem solução, é que a questão nem é de mentalidades, é cultural.
Quantas pessoas vocês conhecem (ou já ouviram falar) que se gabam de viver do subsídio de desemprego? E nós que trabalhamos, pagamos cada vez mais para esses estarem encostados.
Na Noruega pagam 50% de impostos sobre o rendimento e ninguém se queixa. Porquê, porque quando precisam de alguma coisa do estado, têm. Nós pagamos muito e cada vez temos menos mas se tivessemos um Estado sério que n deixasse os mais ricos (não são os que ganham 1500€) fugir aos impostos, provavelmente não estariamos nesta situação.
O mal é cultural. Por muito que doa, o grande desígnio de 90% (ou 80, ou 70%, da maioria) dos Portugueses é fugir aos impostos e ser chico-esperto o resto (e os outros) que se lixem. Enquanto assim for, o país n tem esperança.
O Sócrates fez merd@? Fez. Mas se querem arranjar culpados para a situação que o país atravessa então podem olhar para praticamente (ou talvez todos) os governos desde o 25 de Abril, talvez a começar (mais acentuadamente) pelos governos do nosso actual presidente de republica que foram os que mais dinheiro tiveram e provavelmente os que pior o gastaram. Fizeram estradas que eram precisas, mas reformar o estado com os milhões que na altura vieram da antiga CEE, está quieto. Estradas são visiveis pelo Zé e dão votos. E depois são concessionadas pontes, vitaliciamente, por ministros que hoje em dia são presidentes das empresas às quais concessionaram essas mesmas pontes. E depois o Estado continua a viver como se fosse rico. Não há vergonha.
A minha situação pessoal. Aqui há uns anos escrevi no ínicio deste tópico acerca da polémica do comprar casa ou arrendar casa. Continuo a ser e sempre fui apologista do arrendamento (mesmo que este me custe mais do que uma prestação ao banco) e hoje vejo-me exactamente na situação que descrevi.
Tive sorte desde que acabei a licenciatura. Empreguei-me passado 3 meses de acabar e embora estivesse 3 anos a recibos verdes, não fiz parte da geração 500€. O trabalho era precário, por força dos recibos verdes, mas era bem pago. A minha profissão (n interessa explicar) é por si só sempre precária, dependente de orçamentos e só por volta de Setembro de cada ano é que sei se trabalho no ano seguinte (em Portugal, porque lá fora, à partida n terei problemas em arranjar emprego, mas será sempre em situações geográficas complicadas, o que significa que a família fica para trás)
Passado 3 anos fiquei efectivo, fui promovido e aumentado. Tenho sido aumentado todos os anos e já fui novamente promovido.
Se acho que ganho bem? Acho, tendo em conta o panorama nacional. Mas que ganho mal relativamente às pessoas de outras nacionalidades (a trabalhar em Portugal) que fazem o que eu faço (na mesma empresa q eu), relativamente à carga de trabalho que tenho, à responsabilidade que tenho e à quantidade de dinheiro que tenho que gerir todos os anos, ai isso não tenham dúvidas. De notar que não trabalho para uma empresa Portuguesa.
Tenho um filho com 2 anos, tive que ir viver para o Algarve com a família ( não foi por gostar de praia, foi mesmo porque teve que ser) e trabalho no Alentejo. Todos os dias cerca de 220 kms com a A6 (se soubesse que tinha que ir para o Algarve, obviamente que n tinha sido o carro da minha escolha). Neste momento vejo-me obrigado (a mulher deixou de receber e já não existe a obrigatoriedade de vivermos no Algarve) a mudar de novo para o Alentejo. O gasóleo está muito caro (já n faço viagens com a A6 há bastante tempo. Uso o Saxo comercial da mulher) e tenho que acrescentar a curto prazo as portagens na Via do Infante. Felizmente n tenho nenhum empréstimo às costas (dai ser apologista do arrendamento), basta-me mudar, para uma casa mais pequena e poupar nas viagens.
Este aparte para dizer que falta ( minha opinião) capacidade de adaptação à maioria dos portugueses. Mesmo gente nova continua a achar que o emprego tem que ser para toda a vida e que é comprar uma casa a 60 anos e fazer a sua vida no mesmo sítio até à idade da reforma. Nos últimos 6 anos, morei em 5 casas diferentes (vou agora para a sexta). É uma vida chata? É, mas para mim, casa é onde a família estiver.
Como já alguém disse, os jornais estão cheios de ofertas de emprego. Não correspondem às nossas espectativas? Provavelmente não, mas será preferivel viver com ajudas (do Estado ou de outros), ou fazer pela vida?
Eu pela minha parte, sei que se a situação ficar mesmo complicada e n arranjar trabalho naquilo para que estudei, consigo adaptar-me. C@go na merd@ canudo e vou para as obras se for preciso. Mudo a família para uma casa ainda mais pequena, a mais barata que encontrar e vou carregar baldes de cimento e sei que tenho uma mulher que também vai para um restaurante ou um supermercado se for caso disso.
O mal é as pessoas terem uma grande dificuldade em sequer admitirem baixar o nível de vida a que estão habituadas.
Obviamente que cada caso é um caso. Este é o meu, sem entrar em polémicas com ninguém. Daí concordar com o Arad. Não é por ganhar bem que não sinto dificuldades. Aliás, por vezes acho que pessoas que ganham bem menos do que eu ( estando noutra situação é certo, nomeadamente a curtas distâncias do trabalho, marido e mulher a trazer dinheiro para casa, uma renda acessivel e sem filhos por exemplo), fazem vidas, férias e etc, que eu simplesmente n posso fazer. Agora ganho mais do que 1500€ (por hipótese) e lixem-me ainda mais, n me parece correcto.
Enfim, o desabafo já vai longo e parece-me que isto vai dar pano para mangas.
Cumprimentos a todos.